Para quem acha que contratar mulher é muito arriscado!

7 de março de 2022

É comum vermos muitas publicações sobre preconceito com as mulheres no ambiente de trabalho, confesso que muitas vezes não entendia o tamanho da repercussão desse tema, mas casei, virei mãe, a idade aumentou e não deu outra, comecei a sentir na pele os efeitos desse tema.
Trabalhei por 20 anos em grandes empresas e em todas elas tive uma carreira de sucesso, comecei como estagiária e saí como gerente, depois do nascimento de uma filha muito prematura.
Sou empreendedora há 6 anos e mãe há 8 anos. Tenho quase 50 e, devido à crise financeira que a pandemia trouxe para muitas famílias, decidi voltar para o mercado de trabalho formal e comecei a procurar emprego, mandei currículos, falei com pessoas que me conheciam profissionalmente e nada. Vi no LinkedIn muita gente que trabalhou nas mesmas empresas que eu, virando diretor, superintendente e comecei a analisar o motivo pelo qual eu não era considerada para nenhuma vaga. Algumas alternativas foram levantadas:
1 – Estou fora do mundo corporativo “tradicional” há 8 anos;
2 – Com certeza perdi uma parte das atualizações, como por exemplo as metodologias ágeis, embora tenha feito um trabalho de consultoria para uma empresa que é fera nesse tema e em 6 meses aprendi praticamente tudo o que envolve essa “novidade”;
3 – Sou mãe! E de uma menina de 8 anos que tem paralisia cerebral. Nas entrelinhas está bem claro que vou precisar me ausentar algumas vezes para levá-la ao médico e/ou acompanhá-la em alguma internação de emergência. Sim, isso acontece muito com as famílias que têm filhos com deficiência física ou intelectual;
4 – Outro ponto que parece ser muito crítico é que estou chegando aos 50 anos!
5 – Qualidade de vida é uma coisa que importa muito atualmente. Meus pais estão envelhecendo e não quero perder oportunidades de estar com eles, sempre que possível;
6 – É verdade que já não me disponho a trabalhar 12 horas por dia, mas nas 8 horas que eu trabalho como empreendedora produzo muito e com muita qualidade.
Acredito que essas alternativas que identifiquei para entender o fato de não conseguir me recolocar são suficientes para alinhar as minhas expectativas e entender que o melhor que tenho a fazer é focar no meu lado empreendedor.
Porque foi nesses 6 anos sendo empreendedora que eu produzi muito e construí 3 empresas com o meu marido. Nesse período, consegui conciliar diversos papéis: fisioterapeuta, fono de linguagem, fono de alimentação, Terapeuta ocupacional, mãe, esposa, dona de casa, filha, amiga e irmã. Precisei lutar, e ainda luto muito, para manter a saúde física e mental. E aprendi coisas que nenhuma empresa e nenhum MBA seriam capazes de me ensinar:
– A riqueza do trabalho em equipe e a importância da parceria entre médicos, família e equipe de reabilitação;
– A importância da construção de relações de confiança com pessoas comprometidas e competentes (babá, mãe, sogra, irmã), o que garantia dias de descanso para mim e para o meu marido;
– A necessidade de delegar atividades e a consciência que ninguém consegue fazer tudo sozinho. Temos nossos limites e precisamos de ajuda;
– Estabeleci uma relação mais amigável com a paciência – os resultados são lentos, mas é necessário persistir;
– Desenvolvi a resiliência – Diversos diagnósticos e intercorrências, somados a mais de 500 dias de internação, me fez aprender a recomeçar sempre e persistir na busca pelo desenvolvimento cognitivo e motor;
– Prática da aceitação para saber que tem coisas que não são possíveis mudar, e que é preciso aprender a conviver;
– Todo mundo é capaz de aprender coisas novas e inesperadas, por mais que elas não sejam desejadas. Aprendi a manusear uma sonda de gastrostomia, equipamentos de alimentação (via bomba de infusão), técnicas de fisioterapia e de fono, e muitas outras coisas;
– Nunca me achei uma pessoa muito criativa, mas me peguei construindo brinquedos adaptados para as deficiências físicas, cognitivas e visuais da minha filha;
– Aperfeiçoei muito a minha capacidade de planejamento e liderança, orientando e treinando cuidadoras (horário de remédios, organização da agenda para conciliar todas as terapias, médicos, alimentação);
– Aprendi a conhecer os meus limites e hoje sei muito bem quando preciso de um fim de semana de descanso ou de uma consulta com o meu psiquiatra.
Tenho mais desafios que uma mãe de uma criança considerada típica, mas tenho certeza que todas nós, mulheres, mães que cuidam de filhos e filhas que cuidam dos pais, têm capacidade de sobra para fazer um excelente trabalho, seja ele qual for.
E para todas as mães, típicas ou atípicas, que conhecem o desafio de conciliar tantos papéis, desejo que encontrem uma forma de equilibrar todas as atividades e responsabilidades, lembrando que cuidar de si mesma também é prioridade, que não precisamos dar conta de tudo sempre, que tá tudo bem pedir ajuda, que sair de cena de vez em quando, nem que seja por pouco tempo, é necessário e faz a gente voltar mais forte e mais animada para as batalhas que temos que lutar diariamente.
Te convido a olhar para si mesma e se orgulhar do tanto de coisas que consegue fazer e de ser uma mulher incrível.
Ana Paula Oliveira
Idealizadora da Academia WorkArea